domingo, 6 de outubro de 2013

Por que os carros antigos estão tão caros?

O sonho do antigomobilismo está cada vez mais distante para quem ainda não embarcou no seu clássico. O valor de um bom esportivo, como o Charger R/T ou o Maverick GT, saltou em quase dez vezes na última década. O que levou a este cenário de especulação e distorção de valores? E como fazer para comprar um carro antigo sem tanto sal?
Como todo movimento de insatisfação, é comum a busca de um cristo. Muitos falam no sucesso dos filmes “60 Segundos” (2000) e “Velozes e Furiosos” (2001) como os grandes catalisadores do movimento de especulação. Mas talvez eles sejam apenas duas figuras de um pano de fundo bem mais amplo e complexo: o Mustang Eleanor 1967 e o Charger 1970 de Toretto só foram sensacionais porque nossa cultura já vivia a todo vapor o resgate da cultura sessentista. Fenômenos assim não acontecem isoladamente.
Um dos primeiros sinais desta explosão foi o movimento britpop do comecinho dos anos 90. Blur, Oasis, Supergrass, Elastica… se você tem mais de 20 anos sabe bem do que estamos falando. Outra dica: a coletânea Number One, do Beatles, foi lançada dia 13 de novembro de 2000. Austin Powers? O primeiro é de 1997, o segundo, de 1999. E assim vai.Em poucos anos, o resgate dos anos 1950 e 1960 se expandiu exponencialmente para todo tipo de produção material e cultural: roupas, gêneros musicais, motos (a Harley-Davidson explodiu no Brasil a partir de 2000 – e pense na moda das scooters), cortes de cabelo, o retorno à prateleira de filmes de Antonioni, Kubrick e Polanski, design de geladeiras, batedeiras, até as garotas pin-up voltaram com tudo, em releituras tatuadas bastante… interessantes.
Todo esse tipo de coisa, em maior ou menor dose, virou parte de consumo orientado ao lifestyle: todos querem ser cool. A imagem abaixo, por exemplo, parece ter 40 ou 50 anos, mas foi feita em 2011: é de uma campanha da Chanel, estrelada por Keira Knightley. Sim, é uma Ducati Sport 750. O antigomobilismo, portanto, não é um movimento isolado. É só um balde d’água de uma enorme onda.


A caça ao tesouro nas cidades do interior

A explosão de demanda do fim dos anos 1990 foi a oportunidade de ouro para quem estava atento no mercado dos antigos. E infelizmente, a maioria destas pessoas atentas não estava exatamente bem intencionada.
O movimento de especulação dos carros antigos se iniciou com uma verdadeira cruzada de traders, os caras que compram carros e os revendem na sequência, embutindo o seu lucro. Primeiro eles agiram nas próprias regiões, depois, nos bairros mais afastados e, finalmente, nas cidades do interior e até em países vizinhos (o que requeria um complexo e corrupto sistema de desmonte e transporte em caminhões-baú). Todos eles procuravam o clássico “carro do vovô”: aquele todo original, às vezes apenas com dezenas de milhares de quilômetros, que eram comprados por preço de banana por ingenuidade de seus donos e mentiras muito bem armadas pelos negociantes.


Muitos destes “carros de vovô” ainda estavam com seus donos porque, durante a década de 1980, estes automóveis valiam tão pouco que algumas pessoas preferiram ficar com eles, mesmo que ficassem encostados, juntando poeira. Quem viveu esta época sempre tem histórias de Fuscas, Dodges e Mavericks, muitos em bom estado, que foram trocados por fogões e bicicletas. Com esta referência, o que os negociantes ofereciam parecia ser uma fortuna. Mas era miséria. Na revenda, a margem de lucro de muitos passava dos 1000%.
Isso também aconteceu com os estoques de peças antigas sem uso – o famoso N.O.S. (new old stock). Muitas lojas e oficinas tinham caixas e caixas delas, que foram “rapadas” pelos negociantes por preço de banana, sempre acompanhada de uma história bizarra para justificar a compra em lote sem levantar muita desconfiança. Até borracharias foram reviradas, em troca de rodas valiosas (como as “castelinho” de Puma ou as Magnum 500 de Dodge).

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